quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O infinito particular das crossdressers


Um universo desconhecido por muitos. Assim, defino o mundo crossdressing. Crossdressing? Você pergunta, não é? Mas, se trata de um termo que diz respeito a um número expressivo de indivíduos. Estima-se que, no Brasil, 3% da população é composta por crossdressers e travestis. Utilizando a definição de Veronika Schneider, uma crossdresser (CD) que participa do Brazilian Crossdresser Club (BCC), crossdresser “é um homem que (...) apesar de ter um sexo masculino, possui o gênero feminino, como todas as outras mulheres e este gênero existe num plano simbólico e não físico, fazendo com que o sexo seja apenas um aspecto secundário dentro desse panorama”. Agora você deve se questionar sobre a sexualidade desses homens. Mas, as CDs, em sua maioria, são heterossexuais, muitas vezes casados, com filhos e possui uma identidade social masculina.

Estudiosos da área da psicologia destacam duas teorias acerca do travestismo (acredito que essas se aplicam também ao crossdressing). A primeira linha teórica afirma que a homossexualidade é a base que fundamenta o travestismo, enquanto que a segunda advoga que as travestis são heterossexuais, pois possuem identidade social contrária a de nascimento e possui desejo afetivo-sexual por indivíduos do sexo oposto ao qual elas se identificam. As duas premissas são apocalípticas, mas prefiro utilizar a segunda, pois respeita o direito à identificação dos indivíduos independente do sexo biológico.

Então, ao aplicar a teoria que afirma a heterossexualidade dos travestis ao universo crossdressing, podemos quebrar vários estereótipos. O primeiro é a determinação de comportamentos caracterizados como femininos e masculinos. Com o caso das CDs, elas transitam entre os dois comportamentos com tranqüilidade. Porém, o que as preocupam é justamente o preconceito da sociedade.

CDs iniciam as primeiras manifestações de se vestir de mulher entre os 4 a 11 anos. Isso quer dizer que essas crianças ainda não estão imersas no universo da construção de significados e apreensão de normas sociais. Nesse caso, pode-se afirmar que o crossdressing não é um comportamento apreendido durante a infância, mas algo natural que se manifesta com o passar dos anos.

Apesar do fator comum de utilizar roupas e acessórios femininos, CDs se diferenciam dos travestis, drag queens e transexuais. As características próprias desse grupo são que as CDs não se prostituem, transitam regularmente entre a identidade masculina e feminina e são mais contados nas modificações corporais.

Estima-se que entre 0.5 a 3% da população mundial seja composta por crossdressers e travestis. Infelizmente, a maioria desses homens permanece na clandestinidade, o que piora o estado de espírito desses. Eliane Kogut, psicóloga que estudou durante sete anos o comportamento das CDs, declarou na reportagem da revista Época que “quanto mais [os CDs] tem a esconder, maior a angústia”, referindo-se ao anonimato que as CDs se sujeitam. O apoio de familiares e amigos é fundamental para a socialização das CDs. Inclusive artistas e personalidades históricas apresentam comportamentos do crossdressing. É o caso do rei da Inglaterra, Edward VIII. Ele era adepto do universo feminino e tinha vários seguidores no país.
Crossdressers deixam claro, contrariando as opiniões de psicanalistas, que não existe ex-crossdresser. Também destacam que não são indivíduos com dupla identidade, um ser ambíguo ou fragmentado. Elas se designam como um ser de duplo-gênero (duplo gender) formado pelo sexo biológico masculino, gênero feminino e complementado pela sexualidade. Ainda dizem que existe a diversidade sexual dentro do grupo, ou seja, possuem CDs heterossexuais, homossexuais e bissexuais.

As crossdressers, para conhecer indivíduos semelhantes no crossdressing, se uniram e construíram o Brazilian Crossdresser Club (BCC). Trata-se de um website que aborda assuntos relacionados ao universo do crossdressing. Com 11 anos de criação, o clube possui 350 associados e realiza reuniões anuais onde passam um fim de semana vestidos de mulher.

Para concluir, as crossdressers podem ser sintetizados em uma palavra: complexidade. É um grupo complexo, com características peculiares, mas instigante para os olhares curiosos porque quebra padrões sociais e de gênero.

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