terça-feira, 4 de novembro de 2008

O polêmico beijo gay na USP


Um simples beijo entre dois rapazes - os estudantes José Eduardo Góes, 18 anos, e Jarbas Rezende Lima, 25 anos - na Universidade de São Paulo (USP) durante a realização de uma confraternização entre alunos desta instituição no dia 24 de outubro foi o suficiente para agressões e ações anti-homossexuais. Beijo que se fosse protagonizado por casais heterossexuais seria considerado “normal”, para os relacionamentos baseados na homoafetividade torna-se um ato desrespeitoso ou atentado violento ao pudor. Foi isso que ressaltou a direção do Centro Acadêmico Moacyr Rossi Nilsson, quando perguntada sobre o assunto.


Fica evidente que o preconceito e a intolerância estão presentes em quase todos os ambientes sociais, inclusive num local onde se promove a produção do conhecimento e visa construir indivíduos mais democráticos, como o caso da USP. A entidade, para justificar que não foi homofóbica com as vítimas, afirmou que outros estudantes homossexuais freqüentam o lugar e nunca foram discriminados por nenhum funcionário.


No último dia 28, os alunos que sofreram agressão registraram um boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) contra o Centro Acadêmico de Veterinária por constrangimento ilegal e lesão corporal. Eles deixaram claro que a guarda universitária do C.A., no momento do ocorrido, não fez nada em relação ao caso. Logo, eles foram humilhados após o beijo, agredidos por alguns alunos da universidade e expulsos da festa.


O que se coloca em discussão aqui não é apenas a questão da existência da homofobia dentro de uma universidade prestigiada como a USP, mas o porquê de casais homossexuais não poder manifestar o carinho pelo companheiro ou companheira em locais públicos. O artigo 5º da constituição possibilita direitos iguais a todos. Ao lado, transcrevo o inciso que confirma essa afirmação: “Todos são iguais perante a lei, sem distinções de qualquer natureza, garantindo-se a todos a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.


Então, permanece o questionamento do parágrafo anterior: por que homossexuais não podem beijar em público? O preconceito da sociedade brasileira tenta esconder a homossexualidade por baixo do tapete, mas isso não resolve o problema. Os gays e lésbicas ficam invisíveis durante 364 dias do ano, mas na data marcada para a Parada LGBT, esses difundem o discurso de protesto e crítica à intolerância sexual. Esse é o único momento que exercermos o direito à igualdade sexual.


Só para relacionar com o beijo dos estudantes, os meios de comunicação acabam difundindo essa invisibilidade dos casais homossexuais dentro das novelas e seriados de TV. É comum assistir novelas que induzem a homossexualidade de alguns personagens, mas não mostra sequer um beijo entre esses. É o caso da novela Mulheres Apaixonadas, reprisada pela Rede Globo atualmente. Nessa obra, as personagens Clara e Rafaela possuem uma relação homossexual. Mas, até o último capítulo, provavelmente, não veremos um beijo entre as duas lésbicas que mais parecem melhores amigas.


Após esse ocorrido na USP, a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) realizou na última sexta-feira (31/10) um protesto - o “beijaço” - em frente ao Centro Acadêmico de Veterinária. O evento contou com a presença de mais de 200 pessoas. Os representantes dos grupos LGBT de São Paulo promete outra manifestação desse tipo no próximo dia 12 em frente ao prédio da reitoria da universidade. Aliás, essa não quis comentar nada sobre o assunto.


Para concluir, vamos torcer e lutar para que homossexuais possam manifestar o amor sem se preocupar com a discriminação e a intolerância. Só desta forma é que mostraremos a nossa existência, que somos milhões na multidão.

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