sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

"Precisamos eleger políticos gays comprometidos com a nossa cultura e modo de vida"


Diego Boca de Inferno


Aos 36 anos, Marcelo Cerqueira possui uma longa trajetória nos campo político e social. Além de ser o presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), fundado por Luiz Mott em 1980, Cerqueira se candidatou ao cargo de vereador em Salvador pelo Partido Verde em 2004, mas não foi eleito e também é licenciado e bacharel em História e articulador dos Direitos Humanos. Na entrevista abaixo, ele aborda diversos assuntos voltados ao grupo GLBTT.


1) Do ponto de vista judicial/legal, quantos casais conseguiram a união estável na Bahia?
Marcelo Cerqueira – Não temos essa jurisprudência na Bahia. Até agora os casais que se uniram foram através de um casamento simbólico, reconhecido pelo INSS, realizado na sede do GGB. Cerca de vinte casais já registraram a sua união estável.


2) Quais os procedimentos que esses tomaram para conseguirem se unir judicialmente?
MC – Não temos conhecimento desse tipo de ação, mesmo porque trata-se de uma legislação Federal, mutável somente com a instituição do projeto de Parceria Civil, em tramitação a mais de onze anos no Congresso Nacional.


3) Na sua opinião, por que a justiça ainda não aceita a união entre casais homossexuais?
MC – Porque não reconhece as uniões familiares que são formadas na homo-afetividade. É o caso dos homossexuais, eles acreditam que esse tipo de reconhecimento ameaça a tradição familiar e a propriedade. Também dão um formato religioso que complica as coisas porque entra valores cristãos e dogmas.


4) De que forma os movimentos de liberdade sexual como a Parada Gay contribuem para os casais homossexuais assumirem a relação?
MC – De muitas formas, tem parceiros que só saem em público na parada gay, porque não tem coragem de assumir a relação diante da sociedade a qual não oferece garantias legais para que essas pessoas tenha o direito a felicidade de sua forma.


5) Quais as orientações que o GGB oferece para esses casais? Onde podem procurar esse serviço?
MC – temos um serviço de orientação jurídica que oferece dicas de como obter garantias legais. Mas para o casamento é algo complicado porque tem de ter uma legislação federal especifica. Assim, enquanto isso não vem orientamos assinar o livro de registro de casamentos do GGB.



6) Por que há muitos casais homossexuais que ainda não assumem o seu relacionamento?
MC – Depende do ponto de vista. Muitos não assumem porque não tem garantias legais para assumir, assumir no Brasil ainda é um risco.



7) Os homossexuais estão se casando mais a partir da repercussão do casal gay da novela Paraíso Tropical?
MC – Não sei até que ponto as novelas tem papel positivo. Mas, acredito que de algum modo elas contribuem para que as pessoas possam ser mais felizes na vida real.



8) A sociedade está mudando a sua visão em relação à homossexualidade?
MC – Sim, certamente. É uma acumulo de coisas, o GGB na Bahia tem papel importante nessa luta, são vinte e sete anos, aliado a força que a imprensa tem dado as paradas, a justiça são muitas conquistas, mas, precisamos de muitas outras. Precisamos por exemplo eleger políticos gays comprometidos com a nossa cultura e modo de vida.



9) Como você analisa a adoção de crianças por casais homossexuais?
MC – Acho um direito. Mas tenho reservas à questão que envolve aspectos subjetivos que vão além de quem adota se é homo ou hetero.



10) O que falta para as pessoas consolidarem o casamento gay?
MC – Falta o reconhecimento do pleito por parte da Justiça Brasileira, somente isso. Muitas pessoas já vivem como se casados fossem.



11) Ainda há muito preconceito em relação à união de pessoas do mesmo sexo?
MC – Sim, existe porque muitas pessoas têm má vontade com a questão cultural. Tem de haver uma mudança de mentalidade,. As pessoas mais conservadoras e jovens inclusive ainda se chocam com casais do mesmo sexo em atos de carinho e afeto em público. O simples beijo, andar de mãos dadas muitos vêem como uma provocação, como um absurdo.



12) Quais os projetos que o GGB promove no tocante ao casamento gay?
MC – O GGB institui o livro de registro de parceria civil entre pessoas do mesmo sexo. Fazemos casamentos na sede da entidade e criamos um ritual a ser realizado fora da sede. Cerimônia belíssima onde evocamos os cânticos dos cânticos, o hino do amor, tudo escrito na bíblia é muito lindo e tocante.



13) Gostaria de deixar algum comentário sobre o assunto?
MC – Que o direito a felicidade seja estendido a todos os homossexuais que sofre cotidianamente vitimas do preconceito e da intolerância.

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