terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Assumidos, felizes e dane-se o preconceito *




Jovens assumem a homossexualidade e enfrentam a discriminação para encontrar o amor e a felicidade


Diego Boca de Inferno



Beijar meninas e descobrir que melhor seria beijar os meninos. Foi assim que aconteceu com Gabriel Neto, 23 anos, quando ele ainda era adolescente. As primeiras paqueras, as primeiras trocas de olhares foram com elas. "Eu queria mentir para mim mesmo e para a sociedade. Tinha medo de virar gay; pensava que jamais seria feliz". Nessa mesma época, Gabriel ficou com garotos e descobriu que ser homossexual não seria o fim, mas o começo da busca de sua felicidade.
A realidade experimentada por Gabriel não é um fato isolado. Ao contrário, muito outros jovens estão vivendo experiências homo e bissexuais. Eles enfrentam o preconceito social, a discriminação da família e a auto-rejeição. Para assumir a sexualidade, meninos e meninas que gostam de pessoas do mesmo sexo, superam medos e as barreiras sociais e estão se assumindo e ao outro abertamente, sem precisar esconder a relação e se esconder de ninguém.
Aos 18 anos, Gabriel assumiu a sexualidade para a mãe que, com a autorização dele, contou para o restante da família. Para ele, essa decisão significou um passo de liberdade, pois assim poderia expressar sentimentos, angústias, sonhos e pensamentos. "Para mim, assumir para meus familiares foi o vôo à liberdade. Foi falar o que sentia, pensava, sonhava. Além disso, estava namorando nessa época com um cara e saiamos quase todos os dias. Minha mãe já estava desconfiada e por isso falei", diz.
Gabriel disse que a família percebeu que a condição de homossexual não alterava seu jeito de ser. "Minha mãe, no início, ficou um pouco amedontrada, pelo fato de nunca ter lidado com isso com uma pessoa tão perto. Mas, aos poucos, mostrei para ela que ser gay não altera em nada a minha vida. Também conseguir tirar da mente dela aquele gay estereotipado em que a mídia mostra com tanta ênfase. Ela tinha medo que virasse uma mulher ou algo parecido", comenta sorrindo.
As meninas também estão assumindo a homossexualidade com mais naturalidade, sem medos. Juliana, 20 anos, que namora com uma garota há um ano e um mês, tem planos futuros com a companheira e pensa em dividir parte da vida com a amada. Ela fala que enquanto cidadã tem o direito de viver como outra pessoa qualquer, independente da sua opção sexual. "A minha vida é normal. Não há nada de tão diferente. Não vivo em um submundo. Portanto, a minha vida não se diferencia muito da vida de uma menina heterossexual", afirma para continuar: "O que deve existir é respeito entre as pessoas seja lá qual for sua raça, credo religioso ou opção sexual.", ressalta.



Pais resistem à homossexualidade dos filhos



Numa sociedade onde a homossexualidade não é aceita com naturalidade, os jovens nessa condição acabam enfrentando outra barreira: a não aceitação dos pais. É o caso de D.S.L. Às vésperas de completar 18 anos, ele não esperou muito o tempo para assumir sua opção sexual por pessoas do mesmo sexo e aos 16 anos teve a homossexualidade descoberta pelo pai. D.S.L conta que foi a maior confusão, que o pai não aceitou a condição sexual dele, mas a descoberta foi uma das melhores coisas que lhe aconteceram. "Meu pai descobriu um casinho que eu tive através de mensagem no meu celular. A reação dele foi nervosa no começo, mas depois ele chegou em mim, conversou e hoje tá tudo beleza", diz.
A mãe de um homossexual de 19 anos, que daremos o nome de Lena, porque ela não quis se identificar, também resistiu à opção sexual do filho. "No início, entender que meu filho é gay foi difícil. Lembro que, quando ele me confirmou, foi um baque, mas hoje o entendo porque vejo a felicidade dele por não precisar esconder a sua sexualidade", comenta.



Liberdade de expressão



Além de conquistar a aceitação dos pais, eles e elas também querem tratamentos iguais no meio social, inclusive, para poder expressar o amor que sentem onde estiverem. O que não é nada fácil.
O presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB) Marcelo Cerqueira diz que as pessoas ainda se assustam com expressões de carinho entre os gays. "As pessoas mais conservadoras e jovens inclusive ainda se chocam com casais do mesmo sexo em atos de carinho e afeto em público. O simples beijo ou andar de mãos dadas muitos vêem como uma provocação, um absurdo", comenta.
Gabriel Neeto acha que as convenções sociais reforçam preconceitos e impedem que muitos jovens assumam a sua sexualidade. "Acho que quem não se assume não tem personalidade. Tem uns que, além de não assumirem a sua sexualidade, criticam quem assume. Mas por um lado até os entendo, pois temos uma sociedade moralista, sexista, hipócrita, dissimulada e tudo isso acarreta ainda mais ao atraso de quebras de tabus, estereótipos, preconceitos e arquétipos", desabafa.
Desinibido, D.S.L diz que não tá nem aí para o preconceito. "Se eu tiver acompanhado, beijo mesmo e não tô nem ai pra ninguém. Preconceito existe em qualquer lugar por qualquer pessoa, até mesmo dentro da própria família".



Sociedade está mudando, diz psicóloga



Para a psicóloga e doutora em Psicologia Social, Iolanda Brandão, a sociedade está modificando a concepção sobre determinados tabus como, por exemplo, a homossexualidade. "Vivemos um momento em que a sociedade, em que alguns tabus entre eles a homossexualidade, estão sendo revistos. Assim, a sociedade se vê na necessidade de compreender os subgrupos existentes ou que sempre existiram", afirma.
Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), concorda. Mas avalia que os gays e lésbicas precisam obter muitas outras conquistas como a união entre pessoas do mesmo sexo e a inserção deles no atual cenário político. "É um acumulo de coisas, o GGB na Bahia tem papel importante nessa luta, são 27 anos de muitas conquistas, mas precisamos de muitas outras", declara.



*Colaboração de Tamiles Palma
Edição de Cláudia Oliveira, professora de Oficina de Jornalismo Impresso

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